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O Músculo Reto Abdominal após a Gravidez

17/08/2013

Yvonne Coldron, Maria J.Stokes, Di J. Newham, Katy Cook. Postpartum characteristics of rectus abdominis on ultrasound imaging. Manual Therapy 13 (2008) 112-121


Muitas mulheres após a gestação procuram atendimento fisioterapêutico devido a algum problema musculoesquelético, como, por exemplo, dor lombar ou na cintura pélvica, diástase do reto abdominal e/ou pobre controle da musculatura abdominal.
Esse artigo fala sobre um estudo realizado com o objetivo de caracterizar o tamanho, a forma, a distância interretos (IRD) e também produzir dados normativos para referência até o primeiro ano pós-parto do músculo reto abdominal.
O autor evidencia a importância do conhecimento das alterações da musculatura do reto abdominal para a realização de um programa de exercícios adequados e aconselhamento pós-natal geral. Os exercícios usados nos departamentos de fisioterapia ou nas aulas de exercícios não são baseados em evidências das mudanças dos músculos abdominais na gravidez e pouca literatura sobre essas mudanças durante e depois da gravidez está disponível.
O presente estudo foi realizado com um total de 69 mulheres nulíparas para o grupo controle e 115 mulheres pós-natal (72 primíparas e 43 multíparas). Estas, foram divididas em 4 grupos:


PN1= primeiro dia pós-natal

PN2= 8 semanas pós-natal

PN3= 6 meses pós-natal

PN4= 12 meses pós-natal.


Algumas mulheres foram analisadas em mais de um grupo pós-parto, dando um total de 183 pontos de análises. Foram observadas, através de um ultrasson Aloka SSD 5MHz, quatro medidas referentes ao músculo reto abdominal: espessura (thickness), área da seção transversa (CSA), forma (shape) e distância interretos (IRD).
Dos resultados, apenas a CSA de 1 dia pós-natal (PN1) foi significativamente maior do que o grupo controle e similar a ele após 8 semanas. A espessura (thickness) foi significativamente menor nos quatro grupos comparados com o grupo controle; o valor de shape (largura) foi significativamente menor no grupo de 12 meses pós-parto, sendo que no grupo PN1 ele foi maior que o grupo controle, seguido de uma queda no grupo de 8 semanas pós-parto e o grupo de 6 a 12 meses apresentou um valor menor, mas não tão menor quanto o grupo controle; a IRD era significativamente maior nos quatro grupos em relação ao grupo controle, mas sofreu um forte decréscimo nos valores do grupo de 8 semanas pós-parto.
As mudanças nas 4 medidas analisadas ocorreram principalmente nas 8 semanas pós parto, mostrando a capacidade do corpo de se reequilibrar à sua nova condição. Isso nos faz pensar na relação contentor-conteúdo proposta por Léopold Busquet, onde o corpo após o nascimento do bebê se readapta à nova tensão.
Segundo os autores, o reto abdominal, mostrando-se mais fino e maior após o parto, sugere uma mudança no estiramento induzido que ocorre durante a gravidez na contratilidade, nos componentes do tecido conectivo muscular e na aponeurose fascial circundante e subjacente da fáscia transversal. Alterações na espessura e largura do músculo pós-natal resultariam na redução da capacidade de gerar força.

Um músculo nessas condições estaria preparado para um programa de reforço muscular? Seriam adequados exercícios abdominais para fortalecê-los? Potter et al usando um dinamômetro isocinético, demonstrou que a força concêntrica e excêntrica na flexão do tronco era significativamente baixa em mulheres de 24 semanas pós-parto comparadas com as do grupo controle.  A redução da espessura (thickness) do reto abdominal apresentada nesse estudo indica uma diminuição na capacidade de gerar força. Os autores ainda afirmam que um aumento na IRD/ DRA pode levar a uma diminuição da stiffness da parede abdominal, causando um desequilíbrio com os outros três músculos abdominais devido a sua conexão com o reto pela aponeurose e pela linha alba. Assim, são necessários mais estudos sobre programas de exercícios pós-natal; principalmente aqueles que não sobrecarreguem a coluna vertebral.
Todos esses achados concordam com os estudos de Busquet (2009), o qual descreve que após o parto, o abdome é esvaziado de um volume importante representado pelo bebê, pela placenta e pelos diferentes líquidos. Durante esse período, toda a organização estática visceral é falha. Isso se deve também ao relaxamento do músculo transverso do abdome que perde momentaneamente sua capacidade de contenção. Por isso é importante respeitar o período de 6 semanas (quarentena) com o objetivo de restabelecer e reequilibrar as pressões intracavitárias. Nesse momento, devemos prever o uso de uma cinta abdominal para diminuir o volume da cavidade abdominal, favorecer o retorno da coerência e a sustentação das vísceras. Michèle Busquet (2009), ainda complementa que a ginástica abdominal clássica, provoca um efeito de hiperpressão, o qual além de penalizar a coluna lombar, ainda favorece o inchaço pela congestão e retenção líquida. Porém, a ginástica hipopressiva facilita a aspiração visceral, a aspiração de líquidos e a melhoria da tonicidade abdominal e do assoalho pélvico.
Diante desses conhecimentos, fica claro que, após uma gestação, toda a musculatura abdominal não está preparada para receber em um primeiro momento tensões que levem a um aumento da pressão abdominal. O tratamento com o Método Busquet propõe uma leitura coerente que respeita a anatomia e a fisiologia da mulher, restaurando a função estática e propiciando automaticamente ao corpo, movimentos livres e adequados.


Juliana Cabral Gomes
Professora Assistente do Método Busquet

Fonte: Método Busquet
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Atletas com alto rendimento

Na busca por melhores rendimentos, os atletas utilizam, cada vez mais, atividades complementares para otimizar os resultados. O Pilates traz benefícios tanto à parte física quanto à mental. Com movimentos conscientes e eficientes, há um desgaste muscular menor, levando a um aumento da potência e da resistência e, consequentemente, à diminuição da chance de lesões.
Para um jogador de futebol, por exemplo, adotar o Pilates em sua rotina de treinamento traz flexibilidade e fortalecimento das pernas e dos músculos de estabilização do tronco, que, muitas vezes, podem ajudá-lo durante os impactos e desgastes de uma partida. Um programa de Pilates devidamente adaptado, centrando-se na estabilização dos músculos da pélvis (nádegas e virilha), auxilia na prevenção de lesões típicas do futebol;.
Já para os corredores, (...) o Pilates (...) ajuda a evitar lesões.
Na natação, o Pilates é realizado com ritmo estabelecido pelo professor, empregando padrões respiratórios adequados e atenção aos detalhes. Essa abordagem se traduz bem na piscina, onde muitos nadadores necessitam esquecer a metragem a ser vencida e focar na respiração, na orientação corporal e no equilíbrio.
Nadadores que também fazem Pilates têm facilidade de se concentrar na respiração, no fluxo das braçadas e manter um ritmo constante.
Além da força, flexibilidade e equilíbrio, os atletas aprendem a conhecer o próprio corpo, revertendo seus limites e sabendo quando ultrapassá-los.


Luiz Fioretto
Educador Físico e Personal Trainer com pós-graduação em Pilates Condicionante e Funcional, e Musculação e Condicionamento Físico.

Fonte: Revista Guia de Pilates
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As cadeias fisiológicas e a relação entre hipófise e curvaturas escolióticas

27/03/2013

LANDIM, E.; SOUZA, C. A. T.; VENDICTO, R. R. Avaliação tomográfica da hipófise em pacientes com escoliose idiopática do adolescente. Revista Coluna/Columna, 2006, 5(4), 259-261.


O estudo acima citado teve o objetivo de investigar possíveis alterações morfológicas na glândula hipófise em portadores de escoliose idiopática do adolescente (EIA) por meio de tomografia computadorizada. Os autores justificam o interesse em tentar relacionar essas alterações na hipófise com a EIA baseados nos achados de outros estudos que mostram um aumento nos níveis de hormônio do crescimento em portadores de EIA. O raciocínio de base dos autores foi: uma suposta alteração morfológica na hipófise pode gerar uma alteração na produção do hormônio do crescimento e esta alteração hormonal ser um fator etiológico da escoliose.
 Analisando inicialmente apenas o objetivo do estudo, através do princípio de continuidade das cadeias fisiológicas do Método Busquet, é possível traçar um raciocínio inverso ao dos autores. Uma alteração da relação contentor/conteúdo pode gerar uma consequente curvatura escoliótica com tensionamentos ascendentes até o crânio que se transmitem em continuidade perfeita com as membranas intracranianas até os revestimentos conjuntivos da hipófise. Com isso, esses tensionamentos, a depender da intensidade e da cronicidade, podem gerar alterações morfológicas na “loja” da hipófise. Desde já, vale salientar que essa relação entre o contentor e o conteúdo permite explicar os fatores causais da escoliose, derrubando o conceito de escoliose idiopática.
 Foram submetidas à tomografia computadorizada 15 pacientes portadoras de escoliose idiopática  com média de idade de 15,7 anos e os seguintes parâmetros foram avaliados: parênquima e haste hipofisária, cisterna supra selar, contornos ósseos, comprimento e área da hipófise. O padrão de curva predominante foi o torácico direito (53%), em seguida veio a dupla curva (26%) e por último a curva toracolombar (20%). As curvas foram mensuradas através do método de Cobb e variaram de 30 a 82° (média de 57,8°).
 O principal resultado do estudo foi a variação proporcional entre a área hipofisária e o grau de curva da escoliose. Além disso, através de uma análise estatística, foi possível concluir que a área da hipófise teve uma influência de alta relevância no grau de curva observado. Dessa forma, é possível concluir que há uma relação direta entre o aumento da área da hipófise e o aumento das curvaturas escolióticas. Utilizando o raciocínio citado acima embasado nos princípios do Método Busquet, é possível justificar as alterações morfológicas encontradas, pois se espera que quanto maior a curvatura escoliótica, maiores os tensionamentos envolvendo as cadeias fisiológicas que ascenderão ao crânio e à hipófise.
 A continuidade das cadeias musculares com as membranas intracranianas permite que atividades simples e frequentes como a marcha transmitam os esforços até os revestimentos conjuntivos da hipófise, servindo como mecanismo de pompagem sobre a glândula. As superprogramações de determinadas cadeias musculares podem resultar em divergências nesses esforços ascendentes, permitindo, gradativamente, o surgimento de alterações morfológicas. Um dado importante levantado pelos autores foi que em uma paciente portadora de um padrão de curvatura toracolombar direito com 61° foi observada uma variação anatômica, onde a haste hipofisária estava deslocada também para a direita. Segundo os próprios autores, essa foi a alteração morfológica mais importante observada e a única que fugiu dos padrões de normalidade.
 Analisando generalizadamente esse estudo, é possível comprovar a funcionalidade e a representatividade científica dos princípios de continuidade das cadeias fisiológicas levantados por Léopold Busquet. Primeiramente, pode-se justificar o achado de proporção direta entre a área da hipófise e o aumento da escoliose através da continuidade das cadeias fisiológicas transmitindo esses tensionamentos até os revestimentos conjuntivos da hipófise e impondo divergências de força que podem ser capazes de gerar esse aumento de área. Secundariamente, toda essa alteração morfológica pode ser capaz de “desregular” a produção do hormônio do crescimento, justificando os achados dos estudos citados pelos autores que fazem relação entre a escoliose e alterações nos níveis de hormônio do crescimento.


Paulo Bastos
Professor Assistente do Método Busquet


Fonte: Método Busquet
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A Questão do Envelhecimento

O idoso ocupa, cada vez mais, papeis de destaque na sociedade brasileira: essa população representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais, ou seja, 8,6% da população brasileira. As mulheres são maioria, 8,9 milhões (62,4%) e têm, em média, 69 anos. Os resultados estão na nova publicação do IBGE, que traz números sobre a situação no Brasil.
Esse aumento de idosos levanta questões  relevantes às suas necessidades específicas. No envelhecimento  ocorrem alterações fisiológicas  como perda degenerativa da massa e força muscular, que são reflexos dos efeitos somatórios da deterioração neuromotora progressiva e da redução na sobrecarga muscular. Esse fato é muito importante, pois influencia diretamente na autonomia do idoso, assim como o seu comprometimento postural. Além de se verificar o aumento da longevidade, cada vez mais se assiste a uma maior prevalência de dores na coluna nessa população.
A prevenção de doenças relacionadas à idade, como cardiopatia e osteoporose, ajuda as pessoas a viverem mais tempo. O método Pilates é reconhecido por promover a melhora na estabilização da coluna lombar e o fortalecimento abdominal, ajudando a aumentar a qualidade de vida e a reduzir as dores.
Realizados na posição sentada, os exercícios têm como objetivo diminuir os impactos nas articulações de sustentação do corpo e, principalmente, sobre a coluna vertebral, permitindo a recuperação das estruturas musculares, articulares e ligamentares, particularmente da região lombossacral.
Treinamentos com resistência moderada, como o Pilates, podem proporcionar aumento da síntese e retenção de proteínas, levando a uma perda mais lenta quando comparada ao que acontece a pessoas sedentárias  O número reduzido de repetições permite execuções corretas, mas sem chegar à exaustão - fator importante para os praticantes de mais idade.
Variações de técnica podem ser criadas para atender a este grupo de pacientes, com aulas focadas no alinhamento postural, no treinamento de equilíbrio, na força muscular, na flexibilidade e na reeducação respiratória. A prevenção, outro ponto importante, também deve ser levada em conta para lidar com casos de perda muscular e óssea, diminuição da flexibilidade, restrição dos movimentos articulares, entre outros.
Ao trabalhar todos os grupos musculares do corpo sem exagero, o aluno da melhor idade passa a ter uma maior consciência do próprio corpo. Sem contar que a atividade reinsere os praticantes no âmbito social, criando novos laços de amizade e momentos prazerosos.


Amanda Manzini
Fisioterapeuta com especialização em Pilates, Cardiorespiratório e Mestrada em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo.


Fonte: Revista Guia de Pilates
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Fibromialgia versus síndrome do cólon irritado

16/05/2010

HELFESTEIN M J; HEYMANN R; FELDMANN D. Prevalência da Síndrome do Cólon Irritável em Pacientes com Fibromialgia. São Paulo, SP: Revista Brasileira de Reumatologia. v 46, n I, 16-23p

O artigo "Prevalência da Síndrome do Cólon Irritável em Pacientes com Fibromialgia" , publicado na Revista Brasileira de Reumatologia na edição de jan/fev 2006 dos professores de Reumatologia da UNIFESP, me chamou muito a atenção.
Os autores fizeram uma pesquisa para tentar estabelecer uma relação entre o número de pacientes com fibromialgia (FM) que apresentam também a síndrome do cólon irritado (SCI). O estudo foi feito em 200 pacientes que apresentavam em um primeiro momento a fibromialgia.
Helfenstein M. et al definem a Fibromialgia como uma condição dolorosa crônica caracterizada por dor difusa pelo corpo, e, ao exame físico, a sensibilidade dolorosa encontra-se aumentada em sítios anatômicos pré-determinados conhecidos como tender points. Os critérios diagnósticos exigem a presença de dor afetando o esqueleto axial e periférico e o achado de pelo menos 11 de 18 pontos específicos. Apesar de a síndrome ser conhecida, há muito tempo sua etiopatogenia permanece obscura. As pesquisas apontam para um distúrbio complexo da neuromodulação da dor envolvendo principalmente o sistema nervoso central.
A Síndrome do Cólon Irritado é definida como uma combinação de sintomas gastrointestinais crônicos ou recorrentes não explicados por anormalidades estruturais ou bioquímicas atribuída ao intestino e associada a sintomas de dor e distúrbio da defecação e/ou sintomas de desconforto e distensão abdominal, sendo subdividida em dois grupos: constipativo (5,2%) e diarreico (5,5%). A síndrome é considerada um distúrbio funcional devido a ausência de uma lesão identificável, correspondendo de 25 a 50% das consultas aos gastroenterologistas nos EUA.
No presente estudo, dos 200 com fibromialgia 67% (134) apresentaram também a SCI com predomínio constipativo (90%). Nem todos os pacientes recordaram se a constipação antecedeu o surgimento da dor musculoesquelética difusa. No entanto 22% afirmaram que o quadro constipativo teve inicio antes dar dor. Os autores chamam a atenção para um melhor entendimento dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesses dois distúrbios funcionais - FM e SCI - particularmente para as alterações neurofuncionais e do fluxo sanguíneo cerebral, fenômenos psicossociais e distúrbios motores e das sensações viscerais, mas particularmente penso que a relação entre as duas síndromes não param por aí.
Von Roenn et al (2008) atribuem à SCI de 40 a 70% dos encaminhamentos efetuados para gastroenterologistas e subdividem a síndrome em três apresentações clínicas: grupo da diarreia líquida, grupo da prisão de ventre e diarreia alternadas, e o grupo que tem dor abdominal como sintoma principal e distúrbios do padrão das evacuações, e também chamam a atenção para a associação desta com a FM, assim como distúrbios psiquiátricos, depressão e ansiedade. Um sinal clássico é uma massa dolorosa no quadrante inferior esquerdo (cólon sigmoide)  excepcionalmente reativa a estímulos físicos. Acredito que a disfunção da motricidade do trânsito gastrointestinal seja responsável por mudanças nos padrões da pressão intra-abdominal, que levam a repercussões musculoesqueléticas na tentativa de reequilibra-la e consequentemente criando áreas de pontos-gatilhos e espasmos musculares.
Mense S.; Simons D. e Russel I. em "Dor Muscular" (2008) caracterizam a fibromialgia principalmente pela sensibilidade à palpação nos pontos anatomicamente definidos, os tender points, sendo eles pontos de sensibilidade dolorosa circunscrita em um nódulo que é parte de uma banda tensa palpável presente na fibra muscular. E vão mais longe quando afirmam que na maior parte dos casos a dor musculoesquelética é referida, tendo outro local de origem que não o ponto da dor (como na maioria dos espasmos musculares) caracterizando estas anomalias como duas das manifestações clínicas mais importantes de doenças somáticas e viscerais profundas. Segundo os autores, nos pacientes que apresentam apendicite, a dor aparece na região epigástrica ou peri umbilical e não é afetada pelo movimento, e a medida que a dor se dissemina pelo peritônio parietal adjacente, na fossa ilíaca direita, ela se torna mais nitidamente localizada com presença de espasmo reflexo acentuado da musculatura abdominal inferior. Os pontos-gatilho persistentes, ativados por esses processos viscerossomáticos  podem causar dor, que persiste ainda por longo tempo depois da resolução da apendicite.
Milton Helfenstein Jr é médico reumatologista e professor assistente da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. E neste trabalho foi capaz de reconhecer a superposição de sintomas nos permitindo classificar diversos estados de dor musculoesquelética crônica e de distúrbios gastrointestinais, poupando tempo e proporcionando a elaboração de estratégias terapêuticas mais eficientes.
Esses exemplos são muito importantes, pois trazem à luz uma real relação vísceras-músculos, ficando claro desta forma que ela existe e que estabelecida e tratada pode melhorar bastante o prognóstico desses pacientes.


Dra. Isis Badini
Fisioterapeuta e Professora Assistente da Escola Brasileira de Cadeias Fisiológicas - Método Busquet


Fonte: Método Busquet
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Prevalência das desordens Temporomandibulares em pacientes com refluxo gastro-esofágico

09/07/2011

Guaraibeh, T.M. Prevalence of Temporomandibular Disorders in Patients with Gastroesophageal Reflux Disease: A Case-controlled Study.American Association of Oral and Maxilofacial Surgeons.2010.

No estudo apresentado, Gharaibeh et al (2010),  estimaram  a prevalência do Distúrbio Têmporo-Mandibular (DTM) em pacientes com doença de refluxo gastro- esofágico (DRGE) considerando que não existiam outras publicações que fizessem relação direta entre essas disfunções.
A doença do refluxo gastro esofágico e as Disfunções Têmporo- Mandibulares são relativamente comuns na população adulta com uma prevalência de 20 % e 22% respectivamente. Fatores psicológicos, principalmente o estresse, têm sido apontados na iniciação e manutenção de ambos.
A pesquisa foi realizada no Hospital Universitário King Abdullah , Irbid, Jordânia. O grupo de estudo consistiu-se de 60 pacientes que foram previamente diagnosticados por um gastroenterologista consultor de DRGE, baseando-se em uma história de sintomas clínicos e uma resposta favorável ao uso de medicamentos como o Lansoprazol. Um grupo controle de 60 indivíduos sem sintomas de DRGE de mesma faixa etária e sexo participou do estudo. Os dois grupos foram entrevistados e avaliados clinicamente através de um sistema de diagnóstico que quantifica e classifica os componentes físicos (dor miofascial, artrose) , psicossociais, depressão e somatizações (com escala de dor) das disfunções têmporo- mandibulares.
O resultado da pesquisa mostrou que 36,6% dos 60 pacientes do grupo de estudo tinham DTM em comparação com 18,3% do grupo controle. E ainda 31, 7% do grupo de estudo versus 15% do grupo controle foram diagnosticados com dor miosfacial. Concluindo que, de fato existe um aumento na prevalência de DTM em pacientes com DRGE e alertando da necessidade do conhecimento desses dados pelos gastroenterologistas, dentistas e cirurgiões maxilo-faciais.
O texto foi construído de forma clara e objetiva, com tabelas que facilitaram o entendimento. A metodologia e os critérios utilizados para a seleção dos pacientes no estudo foram coerentes e bem organizados, o que proporcionou clareza nos resultados.
Uma citação importante feita no artigo é que antinflamatórios não esteroides são rotineiramente prescritos como tratamento do alívio da dor nas DTMs. E, considerando que esses medicamentos podem causar sintomas gastrointestinais e exacerbar as condições erosivas esofágicas, os médicos deveriam ter mais cautela na prescrição dos mesmos.
Outra questão interessante levantada foi a real relação dos fatores psicoemocionais como agente causador do DRGE e/ou da DTM. Reforçando cada vez mais a necessidade de uma avaliação integral dos pacientes que entram no consultório médico. 
Busquet (2009) afirma que a demonstração da ligação mecânica entre o estresse e a disfunção da ATM necessita de um desvio pelo plano visceral. A partir daí, as tensões sobem pela cadeia visceral, até a garganta, o osso hióide, a base do crânio, as apófises estilóides e pterigóideas e os músculos da ATM. Explicando porque todas as pessoas que apresentam crispações exageradas nos músculos têmporo mandibulares sentem “incômodo” no seu ventre, na sua pele, na sua cabeça.
Isso talvez esclareça os resultados do estudo, que evidenciaram que 15% do grupo controle também possuíam dor miofascial mesmo sem os sintomas do DRGE. Pois, o fato de não referirem sintomas específicos do DRGE, não quer dizer que essas pessoas não estejam estruturando tensões a nível visceral que se propagam e parasitam o crânio e a articulação têmporo- mandibular.
Por fim, poderíamos acrescentar ao estudo a análise os hábitos alimentares dos dois grupos. Pois, além dos fatores psico-viscero-somáticos, seria coerente considerarmos a influência direta de uma má alimentação no desenvolvimento da DRGE.
A partir deste estudo, muitas possibilidades de pesquisa são sugeridas no intuito de reforçar a relação da DTM não só com a patologia do DRGE, mas também com todas as tensões miosfasciais e viscerais que esses pacientes apresentam. E fica a reflexão da importância da avaliação e do trabalho multidisciplinar entre médicos, dentistas, nutricionistas e fisioterapeutas para o sucesso do tratamento. 


Drª Merielen Machado
Fisioterapeuta e Professora Assistente da Formação Busquet no Brasil